segunda-feira, 28 de maio de 2018

...

sobre os dias?

tão paroxítonos:
assim, os acentos nos lugares certos,
fixos, invioláveis.

como a torneira insistente na goteira que não enche nada
- embora o ralo ali mostrando a porta de emergência.
Embora bem à sua frente,se vê, mas
qual a força de ir embora?

como a sala que não recebe mais visitas,
embora impecável. E sempre lembro de comprar
flores pro vaso rachado, bibelores novos pro aparador cansado,
tapete pro chão surrado, colcha pro sofá rasgado...
e lembro: o quanto despendo para cobrir tantas coisas gastas!

Penso também na Solidão que por si mesma espera
e nunca acerta a hora, o passo, o ponto do encontro, perdendo a hora
fazendo companhias aos desafortunados. Nunca viu a própria face.
Um dia ela sonha fugir dessa sina, folgar dessa rotina, quem sabe.

moro numa esquina:
os carros, as mesmas rapinas: Zummmmmmmm
Embora o tempo que persigam já esteja morto.
Inúteis as ferocidades da cidade.

aprendo com o assento que me indicaram:
aqui sentou meu bisa, o tata e o avô.
papai me pôs no colo para a primeira foto aqui.
"-sorria!"
se ele está na família a tantos dias, dias sobre dias,
alguma coisa ele me ensina

...

(me mineralizo

dia
a dia).