quinta-feira, 4 de julho de 2013

Amo a voz da tempestade


Amo a voz da tempestade,
Porque agita o coração...
E o espírito inflamado
Abre as asas no trovão!

A minh'alma se devora
Na vida morta e tranqüila...
Quero sentir emoções,
Ver o raio que vacila!

Enquanto as raças medrosas
Banham de prantos o chão,
Eu quero erguer-me na treva,
Saudar glorioso trovão!
(...)


Álvares de Azevedo

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A casa abandonada


Vai doer mas depois vai passar.

Um lance de escada, uma casa sem sacada,
janelas às cegas, paisagens lacradas.
O mar, em frente, aterrado.
A luz da manhã, quando vara a fresta, dentro,
já é meia noite, já é madrugada.
Que o galo não anuncia por gentileza, compaixão
condoída a quem dentro ainda se resigna.

Endereço rua da guia, onde cegos
de prontidão esperam por outra sina.

Só há o mar secular
A sacada, velha falásia, teu fadado mirante.
O lance de escada
- vai doer... vai passar...-
e a distância:
tão aquém a seus pés e, ao mesmo tempo,
algo a se alastrar além a sombra humilde dos seus pés.

Jack Borandá