sábado, 20 de fevereiro de 2010

(...)
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons

Chico Buarque

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


...... (...)
não há atrás nem adiante, a pena se rebela, não há começo nem
...... fim, tampouco muro que saltar,
é uma esplanada deserta o poema, o dito não está dito, o não dito
...... é indizível,
torres, terraços devastados, babilônias, um mar de sal negro, um
reino cego,
.................. Não,
deter-me, calar, fechar os olhos até que brote de minhas pálpebras
.......uma espiga, um repuxo de sóis,
e o alfabeto ondule longamente sob o vento do sonho e a maré suba
...... em onda e a onda rompa o dique,
esperar até que o papel se cubra de astros e seja o poema um
...... bosque de palavras enlaçadas,
Não, não tenho nada a dizer; ninguém tem nada a dizer, nada nem
...... ninguém exceto o sangue,
nada senão este ir e vir do sangue, este escrever sobre o já escrito
...... e repetir a mesma palavra na metade do poema,
sílabas de tempo, letras rotas, gotas de tinta, sangue que vai e vem
...... e não diz nada e me leva consigo.

Octavio Paz

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cigarretes and waits and

Alguns segredos - tudo bem -
não guardo o ponto
e deixo à hora.

Outros - tantos -
ponto a ponto - esgueiro e -
me mancha o branco
dos dentes
...................... , da folha

,e me deixa à orla
.................................,

,
.................... ............,

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Pour voir les filles


"Por que hoje eu vou fazer, a meu jeito eu vou fazer, um samba sobre o infinito!"

Paulinho da Viola

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Marginália II


Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir

(...)

Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte
Olelê, lalá

A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá

Torquato Neto

(Capa adap. do disco Recital na Boite Barroco - Ao vivo, Maria Bethânia - 1968)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Elis and Ella and

Ouvindo Elis...

...e afogar na última sombra de âmbar
por trás dos retratos fiéis
retalhos fiéis.

Os lugares permancem os mesmos.
As palavras, essas não,

essas sim, se vestem, abotoam a fresta, saem
e não se olham mais.

Mas...
lá e justo lá: na última sombra de âmbar
há o que se banha, o que se ganha e pelo que se diz e lanha - fiel, fiel, fiel
demais.

Classificado para a "Coletânea Ladjane Bandeira de Poesia", produzida e editada pela Fundação de Cultura Cidade do Recife (no prelo).