quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Estação Solidão

...Solidão
Estou só
Sem sol
Solstício de dor
Minh´alma está nua
Como a lua
Falta algo...
Os (de) lírios florescem
Meus pensamentos são como ondas
Vai...
E vem...
Em devaneios na estação
Solidão!

Dayvson Fabiano

O poeta mantém um acervo adorável no site:

Meio que assim, de repente

(Ao som de Janis Joplin)

Ontem à noite, sabe, meio que assim de repente, de uma hora pra outra, sem eu nem tentar nada, me veio uma doce saudade de você.
Pensei então em te ligar, mas não tenho seu número. Então comecei a escrever uma carta que ainda nem sei se vou enviar. Tão linda, e então, assim, de repente novamente me vem um amor por eu saber que você continua aí, mesmo longe de mim, mesmo longe dos meus olhares, das minhas admirações, das minhas alucinações e que eu te amo.
Te amo até os ossos.
Te amo com a essência da coisa viva.
Te amo com todas as forças da minha alma.
Com tudo que me faz lembrar de você. E entao eu choro, meio que assim de repente, sabe. Quero te tocar, sentir tua têmpora latejante na pontas dos meus dedos, quero subir numa árvore com você em um belo dia de chuva e chorar, meio que assim, sabe, de repente.

Jhonn Abreu

Idílio

te vejo nas sombras dos galhos
com pássaros e frutas maduras
a me oferecer, sempre
mordo tua polpa
e minha boca se enche do teu sumo
te assumo então, tão meu
quanto o sinal na curva do meu pé
sobre o mata-pasto
que cresce perto do açude
assim como meus cabelos
que ninguém corta, que ninguém solta
basta tirar a mão da menina dos meus olhos
pra, em paz, eu imaginar ouvir teu nome
na queda livre de cada folha seca
que se cai dura e repetitiva
e persistem cactos
como as frutas e a sombra (tua sombra)
onde vejo teus galhos ao sol

Jhonn Abreu

O autor do poema mantém um ótimo blog: http://loucura-coagulada.blogspot.com/

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nu com a minha musica




"Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor
Vertigem visionária que não carece de seguidor
Nu com a minha música, afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou"


"Deixo fluir tranqüilo naquilo tudo que não tem fim
Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim
(...)
Coragem Grande é poder dizer Sim."

Caetano Veloso

Mythique et Prosaïque et

Vou me fingir de ateu
mesmo quando matas
todos os deuses
com seu desejo junto ao meu
e me perguntas
"Crer em quê?"

Vou desenganar a Teseu
mesmo quando sois o novelo
desfiado amiúde
da túnica de tua nudez
e aludes
"Labirinto meu"


domingo, 7 de novembro de 2010

A Felicidade

Ao som de I fought in a War, Belle and Sebastian.



Amarrou o cabelo
para não amarrar além.
Tatuou algumas pegadas no calcanhar
para não olhar as suas logo atrás
E não ter a ilusão de não se perder tanto de si.
Açucar na água, sabe:
ela e suas convicções.

Aprendeu a beber por educação a si.
Aprendeu a transar, em qualquer lugar, por sedução de si.
Aprendeu a acender cigarros - por educação às estrelas e por alguma dignidade no breu.

(É certo que meio-dia ou meia-noite, tanto faz, sempre a verá com cigarro entre os dedos, mas não seja indelicado, rapaz...

todo brinquedo-de-ser tem um quê de,

de-ses-pe-ra-da-men-te).

sábado, 6 de novembro de 2010

Leaving for Paris n.3

Ao som de Rufus Wainwright, Leaving for Paris n.2



Um passaporte falso
como os caminhos
e as fardas que não lavo
e deixo e prefiro-as grossas de poeira
(como uma 'causa nobris' -
como alguma distinção
ou condecoração militar).

E fosse ao menos o que em cada mão cabe...
Mas não.

-Embora! 
-Agora!
Que Eu me faça mais carne por meio do sermão:

Lerdes-me não com os olhos fartos de visão
Lerdes-me como a que visto os olhos do Espírito-Santo-
sem-Anunciação.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ao som de Closing Time - Tom Waits




Se o bar fechar,
que lá fora
esteja pianissima a chuva
e em cada poça
eu veja a voz espelhada
do que não sei cantar.
Trago o último refrão
da canção que a memória me faz
engasgar.

Se o bar fechar,
que lá fora
encharque-me o etílico orvalho
que, falso deus,
não pude a vodka transformar
e esse cheiro forte
e esse cheiro forte
mais forte me faça
mais forte me faça

se o bar fechar.

Ela, de amarelo,
na quarta cadeira, vaidosa,
empoada com tanto pó
que todos os seus anos, sim, tirariam-na

para dançar,

desbota, não sustenta a cor
ao madrugar
e sempre lhe pergunto
à porta do último bar

lá fora -
LÁ FORA,
fora,
o que há de morar?

Ela simplesmente (fora
o que já se fora,
um blusão fora de moda e
amanhã
amanhã
amanhã...
a manhã parece leve
embora eles saibam que é bom não se confiar)
pendura a conta - mais uma a saldar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

(...)
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons

Chico Buarque

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


...... (...)
não há atrás nem adiante, a pena se rebela, não há começo nem
...... fim, tampouco muro que saltar,
é uma esplanada deserta o poema, o dito não está dito, o não dito
...... é indizível,
torres, terraços devastados, babilônias, um mar de sal negro, um
reino cego,
.................. Não,
deter-me, calar, fechar os olhos até que brote de minhas pálpebras
.......uma espiga, um repuxo de sóis,
e o alfabeto ondule longamente sob o vento do sonho e a maré suba
...... em onda e a onda rompa o dique,
esperar até que o papel se cubra de astros e seja o poema um
...... bosque de palavras enlaçadas,
Não, não tenho nada a dizer; ninguém tem nada a dizer, nada nem
...... ninguém exceto o sangue,
nada senão este ir e vir do sangue, este escrever sobre o já escrito
...... e repetir a mesma palavra na metade do poema,
sílabas de tempo, letras rotas, gotas de tinta, sangue que vai e vem
...... e não diz nada e me leva consigo.

Octavio Paz

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cigarretes and waits and

Alguns segredos - tudo bem -
não guardo o ponto
e deixo à hora.

Outros - tantos -
ponto a ponto - esgueiro e -
me mancha o branco
dos dentes
...................... , da folha

,e me deixa à orla
.................................,

,
.................... ............,

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Pour voir les filles


"Por que hoje eu vou fazer, a meu jeito eu vou fazer, um samba sobre o infinito!"

Paulinho da Viola

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Marginália II


Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir

(...)

Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte
Olelê, lalá

A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá

Torquato Neto

(Capa adap. do disco Recital na Boite Barroco - Ao vivo, Maria Bethânia - 1968)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Elis and Ella and

Ouvindo Elis...

...e afogar na última sombra de âmbar
por trás dos retratos fiéis
retalhos fiéis.

Os lugares permancem os mesmos.
As palavras, essas não,

essas sim, se vestem, abotoam a fresta, saem
e não se olham mais.

Mas...
lá e justo lá: na última sombra de âmbar
há o que se banha, o que se ganha e pelo que se diz e lanha - fiel, fiel, fiel
demais.

Classificado para a "Coletânea Ladjane Bandeira de Poesia", produzida e editada pela Fundação de Cultura Cidade do Recife (no prelo).

sábado, 30 de janeiro de 2010

Canção de Ninar da Meia-noite


Sing a song of sixpence, pocket full of rye
Hush-a bye my baby, no need to be crying.
You can burn the midnight oil with me as long as you will
Stare out at the moon upon the windowsill, and dream...

Sing a song of sixpence, pocket full of rye
Hush-a bye my baby, no need to be crying.
There's dew drops on the window sill, gumdrops in your head
Slipping into dream land, you're nodding your head, so dream...

Dream of West Virginia, or of the British Isles
'Cause when you are dreaming, you see for miles and miles.
When you are much older, remember when we sat
At midnight on the windowsill, and had this little chat
And dream, come on and dream, come on and dream, and dream, and dream...

Tom Waits - do álbum "Closing Time", 1973

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

the way and angel and

como dois e dois são fatos
não me espanto estar descalço

Já me espantei com os jarros
que atiravam pela janela
e assistia aflito

seu despencar do andar último

(deve ser assim, pensava)

que avencas criam asas.

como dois e dois são fatos
não me espanto estar sem sapatos

assobiando antigo alguma melodia
que à cor do meio dia se distinguiria

(deve ser assim, pensava)

ou não.

E quatro anjos da verdade me encaravam;

(e eu - fingia verdade maravilhado nos meus passos largos)