sobre os dias?
tão paroxítonos:
assim, os acentos nos lugares certos,
fixos, invioláveis.
como a torneira insistente na goteira que não enche nada
- embora o ralo ali mostrando a porta de emergência.
Embora bem à sua frente,se vê, mas
qual a força de ir embora?
como a sala que não recebe mais visitas,
embora impecável. E sempre lembro de comprar
flores pro vaso rachado, bibelores novos pro aparador cansado,
tapete pro chão surrado, colcha pro sofá rasgado...
e lembro: o quanto despendo para cobrir tantas coisas gastas!
Penso também na Solidão que por si mesma espera
e nunca acerta a hora, o passo, o ponto do encontro, perdendo a hora
fazendo companhias aos desafortunados. Nunca viu a própria face.
Um dia ela sonha fugir dessa sina, folgar dessa rotina, quem sabe.
moro numa esquina:
os carros, as mesmas rapinas: Zummmmmmmm
Embora o tempo que persigam já esteja morto.
Inúteis as ferocidades da cidade.
aprendo com o assento que me indicaram:
aqui sentou meu bisa, o tata e o avô.
papai me pôs no colo para a primeira foto aqui.
"-sorria!"
se ele está na família a tantos dias, dias sobre dias,
alguma coisa ele me ensina
...
(me mineralizo
dia
a dia).
segunda-feira, 28 de maio de 2018
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
pedra,
o que levais?
e o que deixais
a esquecer?
aqui estás e aqui estou
na mesma Estrada
e entardecer
o dia carrega longe
algumas gramas do teu ser
enquanto jazes - apenas jazes -
como habitualmente ages,
e me intrigas teu modo
se me podes responder:
o que levais,
pedra,
e o que deixais a esquecer?
o que levais?
e o que deixais
a esquecer?
aqui estás e aqui estou
na mesma Estrada
e entardecer
o dia carrega longe
algumas gramas do teu ser
enquanto jazes - apenas jazes -
como habitualmente ages,
e me intrigas teu modo
se me podes responder:
o que levais,
pedra,
e o que deixais a esquecer?
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Ele quis um espaço.
O homem sente a necessidade de um espaço.
Sempre perambulando.
Só assim pra aplacar a dor,
gado pastando no peito.
Exigiu, então, bom culpado,
o cuidado o maltrato
pelo que deixou inflamado
com seu beijo, mucosa áspera,
cano de escape.
Me quis pedaço
nem largo nem fundo
"porque a medida do homem
não se mede em latifúndio"
- dizia;
Me quis pedaço
algo mais verdadeiro:
palpável e ordinário;
achado, acaso, alheio:
como a pilha velha achada,
sem idéia, na verdade, do que esta lhe valeria -
que sol portátil esta noite acenderia?
Ou então como uma concha marinha
pelo chão,ou ao fundo
de uma escrivaninha
que, ao ouvido, curioso se alinha:
onda por onda, em qual mar nos lançaria?
Um espaço assim, media.
O homem sente a necessidade de um espaço.
Sempre perambulando.
Só assim pra aplacar a dor,
gado pastando no peito.
Exigiu, então, bom culpado,
o cuidado o maltrato
pelo que deixou inflamado
com seu beijo, mucosa áspera,
cano de escape.
Me quis pedaço
nem largo nem fundo
"porque a medida do homem
não se mede em latifúndio"
- dizia;
Me quis pedaço
algo mais verdadeiro:
palpável e ordinário;
achado, acaso, alheio:
como a pilha velha achada,
sem idéia, na verdade, do que esta lhe valeria -
que sol portátil esta noite acenderia?
Ou então como uma concha marinha
pelo chão,ou ao fundo
de uma escrivaninha
que, ao ouvido, curioso se alinha:
onda por onda, em qual mar nos lançaria?
Um espaço assim, media.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
(sem título)
![]() |
Man Ray |
a solidão como périplo,
um dia - venturas, monturos, mitos, milhas -
termina?
II
minha alma é um mapa diáfano, vago, muito vago
se boa a sorte desse dia, se forte o vento ao leste dessa agonia,
se não falível a fé nessas carrancas -
ah! - é quando tudo se.
Bem antes que.
Me salve dos.
:naquele se perdeu meu pai; naquele outro, errou o meu capote,
o do meio, desviou o meu cargueiro,
entremeios, estreita, espreito : a corrente do Forte.
Por dentro, um coração fraco.
e na enseada, minhas fragatas paradas
nas mãos, chumbo branco,
o meu
mapa diáfano
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Amo a voz da tempestade
Amo a voz da tempestade,
Porque agita o coração...
E o espírito inflamado
Abre as asas no trovão!
A minh'alma se devora
Na vida morta e tranqüila...
Quero sentir emoções,
Ver o raio que vacila!
Enquanto as raças medrosas
Banham de prantos o chão,
Eu quero erguer-me na treva,
Saudar glorioso trovão!
(...)
Álvares de Azevedo
quarta-feira, 3 de julho de 2013
A casa abandonada
Vai doer mas depois vai passar.
Um lance de escada, uma casa sem sacada,
janelas às cegas, paisagens lacradas.
O mar, em frente, aterrado.
A luz da manhã, quando vara a fresta, dentro,
já é meia noite, já é madrugada.
Que o galo não anuncia por gentileza, compaixão
condoída a quem dentro ainda se resigna.
Endereço rua da guia, onde cegos
de prontidão esperam por outra sina.
Só há o mar secular
A sacada, velha falásia, teu fadado mirante.
O lance de escada
- vai doer... vai passar...-
e a distância:
tão aquém a seus pés e, ao mesmo tempo,
algo a se alastrar além a sombra humilde dos seus pés.
Jack Borandá
terça-feira, 5 de março de 2013
O poema do filho
Assinar:
Postagens (Atom)