sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


...... (...)
não há atrás nem adiante, a pena se rebela, não há começo nem
...... fim, tampouco muro que saltar,
é uma esplanada deserta o poema, o dito não está dito, o não dito
...... é indizível,
torres, terraços devastados, babilônias, um mar de sal negro, um
reino cego,
.................. Não,
deter-me, calar, fechar os olhos até que brote de minhas pálpebras
.......uma espiga, um repuxo de sóis,
e o alfabeto ondule longamente sob o vento do sonho e a maré suba
...... em onda e a onda rompa o dique,
esperar até que o papel se cubra de astros e seja o poema um
...... bosque de palavras enlaçadas,
Não, não tenho nada a dizer; ninguém tem nada a dizer, nada nem
...... ninguém exceto o sangue,
nada senão este ir e vir do sangue, este escrever sobre o já escrito
...... e repetir a mesma palavra na metade do poema,
sílabas de tempo, letras rotas, gotas de tinta, sangue que vai e vem
...... e não diz nada e me leva consigo.

Octavio Paz

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